Direitos Humanos Direitos Humanos
Cariocas pretas com atuação de destaque recebem prêmio no Rio
Homenagem marca o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
25/07/2023 18h34
Por: Redação Fonte: Agência Brasil
© Tomaz Silva/Agência Brasil

Mulheres cariocas pretas com protagonismo na sociedade ocuparam, nesta terça-feira (25), um lugar de destaque em um dos requintados salões do Palácio da Cidade – uma das sedes da prefeitura do Rio de Janeiro, em Botafogo, bairro de classe média do Rio. A plateia, formada principalmente por mulheres pretas, acompanhava a primeira edição do Prêmio Glória Maria - Mulheres Afro-Latinas Cariocas, promovido pela Secretaria Municipal de Políticas e Promoção da Mulher.

A cerimônia faz parte das comemorações do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. De acordo com a prefeitura do Rio, as premiadas alcançaram destaques pelo trabalho desenvolvido, pela capacidade de liderança e por ações que contribuíram para um caminho melhor da sociedade brasileira. A premiação recebeu o nome Glória Maria para homenagear a jornalista, morta em 2 de fevereiro de 2023, que foi uma das primeiras negras a alcançar papel de destaque no telejornalismo brasileiro. As filhas dela, Laura e Maria da Silva, receberam uma honraria especial.

Categorias

Foram entregues sete prêmios, nas categorias Comunicação, Relações Internacionais, Saúde, Acesso a Direitos, Iniciativas Inovadoras, Cultura e Serviço Público.

A jornalista Flávia Oliveira foi homenageada na categoria Comunicação-Tomaz Silva/Agência Brasil

Na categoria Comunicação, a premiada foi a colunista e comentarista de TV Flávia Oliveira. A jornalista classificou a trajetória de Glória Maria como inspiradora, contou que tem raízes em bairros mais populares da cidade, se definiu como uma mulher de axé, em referência a religiões de origem afro, e fez questão de lembrar o legado da vereadora Marielle Franco, preta de origem no conjunto de favelas da Maré, assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018.

Continua após a publicidade

"Marielle nos permitiu imaginar uma participação política mais efetiva das mulheres negras. Marielle Franco poderia dar muito ao Rio, ao Brasil. Mas, a partir da brutalidade [que ela sofreu], produziu muitas sementes de luta pela dignidade humana, pela vida, pela justiça e por mais presença feminina negra nos espaços de poder", disse a jornalista no discurso de agradecimento.

Na categoria Saúde, a premiada foi a médica Liana Tito -Tomaz Silva/Agência Brasil

Liana Tito recebeu a homenagem na categoria Saúde. A médica faz parte do Grupo Ifé Medicina, formado por cinco mulheres negras. A oftalmologista defende uma medicina baseada em evidência e escuta do paciente, com foco na pessoa e não somente na doença.

“A luta das mulheres negras precisa ser vista todos os dias, mas quando a gente consegue reunir, num dia só, cruzar caminhos e perceber a importância na nossa luta diária, eu acho que écada vezmais colocar em voga essa necessidade de discutir nossos próximos passos através de política pública para que a gente, realmente, seja um povo livre e feliz”, disse a médica, que também trabalha em hospitais pediátricos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Continua após a publicidade
Foto: Reprodução/Agência Brasil

Vencedora na categoria Acesso aos Direitos, a advogada Angela Borges Kimbangu, fundadora da Associação Advocacia Preta Carioca, cantou na hora da premiação: “Tire o seu racismo do caminho, que eu quero passar com a minha cor”. E concluiu: “Quatro ‘pês’:poder para o povo preto.”

Presidente do Instituto Fundação João Goulart, Rafaela Bastosfala após receber o prêmio na categoria Serviço Público-Tomaz Silva/Agência Brasil

A presidente do Instituto Fundação João Goulart, Rafaela Bastos, foi destaque na categoria Serviço Público. A missão do órgão é “impactar positivamente o cidadão carioca a partir da gestão pública”. Rafaela enxerga na premiação um contexto de reparação. “Talvez, reparar para mitigar seja um processo e não o objetivo ou resultado final para uma sociedade mais justa", disse a gestora pública, que também é vice-presidente de Projetos Especiais da Estação Primeira de Mangueira e foi passista da escola de samba por 23 anos.

"Utopicamente realista"

A advogada e ativista Dione Assis foi homenageada na categoria Iniciativas Inovadoras -Tomaz Silva/Agência Brasil

Na categoria Iniciativas Inovadoras, a homenageada foi a advogada Dione Assis, fundadora darede BlackSisters in Law (Irmãs Negras na Lei, em tradução livre), que propõe conexões, trocas e crescimento entre advogadas negras e atualmente tem cerca de 1,5 mil integrantes. No discurso de agradecimento, ela citou o conceito de “utopicamente realista”, do escritor e historiador holandês Rutger Bregman. “Ele disse que, um dia, tudo o que a gente vive hoje foi uma utopia e que as pessoas não acreditavam. De repente, aconteceu. Então, eu acredito, sim, que essa transformação vai acontecer. É só a gente tentar e transformar de verdade”, citou.

A DJ Tamy Reis recebeu o prêmio na categoria Cultura-Tomaz Silva/Agência Brasil

A DJ Tamy Reis foi premiada na categoria Cultura. Ela destacoua trajetória de outras DJs para conseguir ser reconhecida hoje. “Mulheres pretas que pavimentaram o caminho para eu estar aqui”, disse.

Continua após a publicidade

A diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, que defende os direitos humanos e luta contra o racismo, foi destaque na categoria Relações Internacionais, mas não pode comparecer à premiação.

A secretária de Políticas e Promoção da Mulher da prefeitura do Rio, Joyce Trindade, defendeu políticas sociais para mulheres em situação de violência e vulnerabilidade, como auxílio financeiro e capacitação profissional. "Combater a pobreza e a violência é a partir de profissionalização para o mercado de trabalho. E a nossa prioridade é, justamente, mulheres mães, chefes de família e da periferia carioca. A gente sabe que elas são, sim, as mulheres negras, porque a violência tem cor, tem endereço e tem gênero. A gente está consolidando políticas públicas nacionais, a partir do Rio de Janeiro, que já são referências para outras cidades", afirmou a secretária.

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, apontou que o prêmio serve para inspirar outras mulheres pretas e disse que não basta para a cidade não ser racista. “A gente não tem só que não ser racista. A gente tem que ser antirracista, ativista”. Paes ressaltou o papel da sociedade em cobrar ações da prefeitura. “Governos precisam ser pressionados. Essa cobrança, certamente, vai surtir efeito, vai fazer com que a gente avance como sociedade, trazendo mais bem-estar para a nossa gente”, concluiu.

Dia Internacional

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi criado pela Organização das Nações Unida (ONU), durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992. No Brasil, a data também é uma homenagem à Tereza de Benguela , conhecida como “Rainha Tereza”, que viveu no século 18, no Vale do Guaporé, emMato Grosso, e liderou o Quilombo de Quariterê.

Marcha em Copacabana

No próximo domingo (30), será realizadaa Marcha das Mulheres Negras 2023, na Praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Será a nona edição do ato que, este ano, trará o tema “Mulheres negras unidas contra o racismo, contra todas as opressões, violências, e pelo bem viver”.