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Ações da Nicarágua contra a Igreja Católica

A Nicarágua vive uma crise política que envolve diretamente a Igreja Católica que virou até assunto na campanha no Brasil.

Redação
Por: Redação Fonte: TV Cariri
06/10/2022 às 20h23
Ações da Nicarágua contra a Igreja Católica

A Nicarágua vive uma crise política que envolve diretamente a Igreja Católica  que virou até assunto na campanha no Brasil.

 

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O governo de Daniel Ortega acusa parte da  Igreja de tentar desestabilizar o Estado. Mas é internacionalmente criticado por conduzir  um governo autoritário que se perpetua no poder por meio de eleições sob suspeita. 

 

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Um dos capítulos mais graves dessa crise aconteceu em agosto, com a  prisão domiciliar do bispo Rolando Álvarez, voz crítica ao governo de Ortega dentro da  alta hierarquia da Igreja Católica. A prisão despertou críticas dentro e fora da Nicarágua. 

 

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Sou Nathalia Passarinho, da BBC News Brasil e neste vídeo vou explicar por que a Nicarágua virou palco de disputas entre o presidente e a Igreja – e como esse debate chegou ao Brasil. 

 

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Essa disputa na Nicarágua não vem de agora. Segundo um relatório da ONG Observatório  Pró Transparência e Anticorrupção, a Igreja foi alvo de quase 200 ataques entre abril de 2018 e maio de 2022.

 

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Mas a prisão do bispo Rolando Álvarez,  conhecido por denunciar violações de direitos humanos no governo Ortega,  foi um momento marcante. Afinal, o bispo é a segunda mais alta autoridade católica  no país, atrás apenas do cardeal.

 

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Rolando Álvarez também é visto por  muitos como a última voz abertamente crítica a Daniel Ortega dentro da alta hierarquia da Igreja Católica na Nicarágua. O bispo de Matagalpa é acusado pela polícia de,  entre aspas, “organizar grupos violentos, incitando-os a executar atos de ódio  contra a população com o propósito de desestabilizar o Estado da Nicarágua e  atacar as autoridades constitucionais”.

 

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O bispo nega essas acusações. Álvarez está em prisão domiciliar. E seu caso não é isolado. Além dele, outros sete sacerdotes foram detidos neste ano na Nicarágua. O caso  mais recente a ganhar o noticiário é o do padre Óscar Danilo Benavidez Dávila, formalmente acusado pelo Ministério Público em 26 de setembro. As acusações, porém, não foram divulgadas até o momento. Em 2019, outro bispo crítico ao governo,  Silvio Báez, se exilou depois de receber ameaças de morte. 

 

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Além disso, no último ano e meio, as autoridades da Nicarágua expulsaram do país o representante  do Vaticano lá, além de 18 freiras da Ordem de Caridade, fundada pela Madre Teresa de Calcutá. 

 

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Várias emissoras de rádio católicas, muitas delas sob o comando do bispo Rolando Álvarez,  também foram fechadas, algo que a comunidade internacional denunciou  como mais um ato autoritário de Ortega. Ortega é um ex-guerrilheiro sandinista que derrotou o regime ditatorial de Anastasio Somoza em 1979 e presidiu a Nicarágua entre 1985 e 1990.  

 

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Voltou ao poder eleito em 2007, e continua no poder até agora. É acusado de ter escalado a  repressão aos adversários para se manter no comando.

 

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Em novembro de 2021, ele foi reeleito com 75% dos votos para um quarto mandato consecutivo em uma eleição considerada de fachada, porque sete candidatos opositores foram presos e por causa de denúncias de fraude feitas por organizações internacionais. Outra crítica é que vários de seus familiares ganharam cargos no Poder Executivo. O caso mais emblemático é o da sua mulher, Rosario Murillo, que desde 2017 é vice-presidente.

 

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Além disso, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos documentou torturas e outras violações de direitos praticados por autoridades do país. A entidade contabilizou mais de 190 presos políticos, parte deles em condições sub-humanas. 

 

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Já Ortega diz que essas críticas são invenções e que fazem parte de uma campanha para difamar a Nicarágua internacionalmente. Ele acusa os bispos católicos de, entre aspas,  tomarem partido, de se aliar a golpistas e promover a criação de seitas satânicas. 

 

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Segundo pesquisas como a do instituto Gallup, 85% dos nicaraguenses desaprovam a gestão Ortega. Apenas 13% são a favor. O presidente, por sua vez, encomendou pesquisas próprias, em que obteve suposto índice de aprovação de 77%. 

 

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É preciso levar em conta que na Nicarágua a Igreja Católica segue sendo uma instituição  de grande influência. Estamos falando de um país de mais de 6 milhões e meio de habitantes,  onde 90% da população se declara cristã.

 

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No início do seu mandato, Daniel Ortega se manteve próximo à Igreja. Segundo o cientista político Manual Orozco, isso mudou quando o presidente consolidou seu poder e deixou de precisar de votos para ganhar  eleições, classificadas de pouco transparentes. Nos últimos anos, o presidente endureceu sua retórica contra a Igreja e passou a chamar sacerdotes de golpistas ou terroristas.

 

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Mas o marco desse rompimento foram os protestos de 2018, que começaram como manifestações contra reformas na Previdência Social e evoluíram para uma revolta contra o governo. 

 

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A repressão das forças de segurança e de civis armados ligados ao sandinismo   deixou ao menos 200 mortos. Nas contas da Comissão Interamericana, esse número foi  de 328. E organizações da sociedade civil alegam que o número de mortos chegou a 650. 

 

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Milhares de pessoas ficaram feridas, e cerca de mil e seiscentas foram presas,   segundo a Comissão Interamericana. Nos protestos, a Igreja Católica  apoiou os manifestantes e abrigou alguns deles na catedral de Manágua, para protegê-los das forças de segurança.

 

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A autoridade máxima da Igreja, o cardeal Leopoldo Brenes, tentou intermediar um diálogo. Mas fracassou e acabou acusando Ortega de perseguir a Igreja. Mas hoje a Igreja não tem uma  posição única frente ao governo de Ortega.

 

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Existem as vozes críticas, mas também a defesa, por uma parte da alta hierarquia da Igreja, que declara que o governo não é inimigo. 

 

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O cientista político Manuel Orozco é um dos críticos que acham que a alta cúpula da Igreja  tem sido omissa diante do ocorrido na Nicarágua. Enquanto isso, no Vaticano, o papa Francisco disse ter acompanhado com preocupação e tristeza o ocorrido na Nicarágua, quando o bispo Rolando Alvarez foi preso. Francisco pediu, entre aspas, “um diálogo aberto e sincero para uma convivência respeitosa e pacífica”.

 

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No Brasil, as ações do governo de  Daniel Ortega contra sacerdotes católicos na Nicarágua tem alimentado ataques eleitorais e notícias falsas contra a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

 

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Em 19 de agosto, por exemplo, Eduardo publicou no Twitter, Facebook e Instagram uma montagem afirmando que "Lula e PT apoiam invasões de igrejas e perseguição de cristãos". Na  mesma imagem, há recortes de notícias sobre a perseguição de religiosos na  Nicarágua e de declarações do PT e de Lula sobre o presidente Daniel Ortega. 

 

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Lula é acusado de minimizar os abusos cometidos pelo regime de Ortega e evitar comentar o  assunto. Em uma entrevista ao El País em novembro do ano passado, o candidato petista questionou,  entre aspas: ‘Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega, não?’. 

 

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Foi lembrado pelos entrevistadores que Merkel não mandou prender adversários  para se manter no comando da Alemanha. Ao que Lula respondeu, entre aspas: "Eu não sei o que  as pessoas fizeram para ser presas.

 

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 Se o Daniel Ortega prendeu a oposição para não  disputar a eleição, como fizeram no Brasil contra mim, ele está totalmente errado." 

 

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Bolsonaro tem falado da prisão de religiosos e tentado vincular Lula ao governo Ortega,  dizendo que os dois são amigos. Semanas atrás, a campanha de Lula obteve sucesso ao pedir à Justiça  Eleitoral que tirasse do ar postagens do deputado Eduardo Bolsonaro associando o petista a Ortega. O TSE considerou que as mensagens postadas pelo filho do presidente Jair Bolsonaro “resultam em desinformação, a configurar propaganda eleitoral negativa e ofensiva à honra” de Lula. 

 

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A BBC News Brasil enviou para a campanha do ex-presidente perguntas sobre a posição dele em relação às acusações de perseguição na Nicarágua. Mas não recebeu resposta  até a publicação desta reportagem. 

 

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