O Brasil, com seu tamanho continental e seus mais de 200 milhões de habitantes, é o segundo maior em potencial empreendedor do mundo, perdendo apenas para a Índia. Isso é o que aponta o Monitor Global de Empreendedorismo (Global Entrepreneurship Monitor – GEM), estudo realizado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) em parceria com a Anegepe (Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas).
Para dar uma ideia, o país encerrou o ano de 2023 com cerca de 90 milhões de empreendedores ou potenciais empreendedores. Diante, então, deste cenário promissor, é possível observar uma grande margem para outro importante processo ligado ao mundo dos negócios: a internacionalização.
Nesse sentido, uma pesquisa anual da Fundação Dom Cabral analisou mais de 230 empresas internacionalizadas a fim de delinear o perfil desse modelo de negócio no Brasil. Mas esse número pode ser ainda maior.
Isso porque, segundo Luciano Bravo, CEO da Inteligência Comercial, o mercado brasileiro possui cerca de um milhão de empresas com potencial de internacionalização, com as seguintes características: forte potencial de crescimento com entrada de volume de crédito de forma adequada; baixo lucro líquido devido a forma de financiamento doméstico; endividamentos múltiplos com várias taxas e instituições; e falta de planejamento de médio e longo prazo.
Diante deste cenário, para ele, “com um mercado de crédito altamente concentrado no Brasil, onde quatro instituições detém mais de 75% do setor e um sistema que permite uma captação de crédito máximo de até 30% do faturamento, a internacionalização para fins de crédito é a única forma de uma empresa média crescer com sustentabilidade financeira”.
O perfil básico das empresas internacionalizadas
O levantamento da Fundação Dom Cabral revela que pouco mais de 50% das empresas participantes do estudo fazem parte da chamada indústria de transformação. Ou seja, fabricam diferentes itens, desde máquinas e equipamentos a produtos alimentícios.
Em relação ao porte das empresas internacionalizadas, 50,4% das participantes são médias – com faturamento anual entre R$ 4,8 milhões e R$ 300 milhões. Já as empresas de grande porte representam 13,5%, enquanto as micro e pequenas empresas são 12,8% cada.
Contudo, para Bravo, esses números poderiam ser ainda maiores. Isso porque, para ele, o pouco conhecimento do processo de internacionalização pela classe empresarial brasileira é um grande obstáculo. “Além disso, a falta de conhecimento do status real das condições financeiras pelos empresários sobre suas próprias empresas e a falta de visão de médio e longo prazo por parte dos empresários contribuem para esse cenário.”
O trajeto da internacionalização
A exportação foi o caminho escolhido por 75,4% das empresas para o início de sua internacionalização. A FDC reporta, ainda, que apenas 13,4% dos negócios começaram seu processo de atuação no exterior com modalidades que envolvem investimentos diretos fora do país.
Já em relação ao país escolhido para iniciar o processo de internacionalização, os Estados Unidos foram escolhidos por 16% das empresas participantes do estudo. No entanto, os países latinos também têm grande preferência pelos empresários na hora de começar a atuar fora de casa, com 13,8% dos negócios começando pela Argentina, 12,2% pelo Paraguai e 6,4% pelo Uruguai.
Na Europa, o país mais procurado pelos brasileiros para internacionalizar seus negócios é Portugal, com 4,3% das empresas estudadas tendo iniciado seus processos lá.
Os desafios para expandir os negócios para outros países
Um dado curioso é a relação entre o ano de criação das empresas e o de sua internacionalização. Dos 237 negócios participantes do estudo, cerca de 62% foram fundados antes dos anos 2000. Por outro lado, quase 80% da amostra se internacionalizou após a virada do milênio, com a década de 2010 sendo a de maior número de expansão para o exterior com 41%.
Esse importante dado vem ao encontro com o fato de que, nos últimos 30 anos, o papel da indústria vem se reduzindo no Brasil, fazendo com que o país diminua também sua atuação no cenário econômico global. “Isso aconteceu devido a um processo de redução sistêmica da oferta de crédito para a cadeia produtiva industrial”, explica Bravo.
De acordo com Luciano Bravo, “Nos últimos anos tivemos a expansão do agronegócio de forma célere, e o que observamos novamente é a redução da oferta a este setor da economia e o aumento das recuperações judiciais no campo“.
Outro ponto interessante a se destacar na pesquisa da FDC é que os participantes do estudo levaram, em média, 20 anos para se internacionalizar. Contudo, ao comparar-se as empresas tradicionais às mais jovens, a diferença na velocidade desse processo é significativa.
Isso porque aquelas fundadas antes dos anos 2000 levaram cerca de 19 anos para atuarem no exterior, enquanto as mais jovens levaram apenas seis. Levando-se em consideração as startups, a velocidade de internacionalização é ainda maior: quatro anos após sua fundação.
“O ciclo se repete devido sempre a dois fatores escondidos no cenário nacional que são a baixa competitividade de oferta de crédito e o fato do alto custo cobrado na concessão de pouco crédito ser sempre no curto e curtíssimo prazo”, finaliza Bravo.
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