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Criado há 6 anos, projeto Cestas Solidárias aproxima agricultores e consumidores
Desenvolvido pelo IDR-Paraná, na Região Metropolitana de Curitiba, o projeto, que nasceu em 2017, amplia e divulga as iniciativas que contribuem p...
09/11/2023 23h18
Por: Redação Fonte: Secom Paraná

Aproximar produtores e consumidores, democratizar o consumo de alimentos orgânicos e agroecológicos são alguns dos objetivos do projeto Cestas Solidárias, desenvolvido pelo IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), na Região Metropolitana de Curitiba. O projeto, que nasceu em janeiro de 2017, amplia e divulga as iniciativas que contribuem para a produção e o consumo de alimentos orgânicos e saudáveis, bem como promove o desenvolvimento local sustentável.

Ivo Melão, engenheiro agrônomo da Casa da Agroecologia do IDR-Paraná, é o coordenador do Cestas Solidárias o e junto com o quadro técnico de bolsistas faz a mediação entre os produtores e consumidores que participam da iniciativa. Ele conta que o projeto surgiu seguindo um modelo inspirado nas AMAPs (Associação para a Manutenção de uma Agricultura Familiar) criadas na França.

O projeto tem em seu escopo a oportunidade de colocar em prática um mercado de circuito curto de comercialização, onde as relações de seus principais atores são construídas de forma justa, com preços bons para o agricultor e consumidor e transparente para ambos. “Muito mais do que aproximar quem vende de quem compra, o projeto busca valorizar e reconhecer a produção desses alimentos e, ao mesmo tempo, resignificar o seu consumo”, explicou Ivo Melão.

Atualmente são 20 grupos de consumo em funcionamento na Região Metropolitana de Curitiba, com uma média de 15 famílias por grupo, o que representa 1.200 cestas por mês, mais de 6 toneladas de produtos comercializados e um movimento em torno de R$ 45 mil.

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Dependendo do número de clientes no grupo, o agricultor pode ter um rendimento com potencial variando de R$ 2 a R$ 8 mil mensais. O valor médio para os consumidores é de R$ 150 para quatro cestas mensais e os agricultores oferecem uma produção diversificada de forma regular a cada semana.

Para Melão, o papel do IDR-Paraná como articulador e animador do processo de formação dos grupos de consumo tem sido fundamental desde o início.

“A experiência do projeto tem demonstrado que aos poucos cada grupo estabelece uma dinâmica própria de funcionamento, com mediação por parte dos técnicos do IDR-Paraná, quando necessária ou solicitada, por exemplo nas épocas de reajuste dos preços das cestas; na rotatividade de consumidores nos grupos; na programação de visitas de consumidores às propriedades, nos encontros para avaliação do projeto”.

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Segundo ele, em breve serão formados grupos de consumo para atendimento por produtores que estão em transição agroecológica. “O desafio é dar oportunidade a este canal de comercialização aos produtores que nesta fase, normalmente, encontram mais dificuldades de venda de seus produtos no mercado”, diz Ivo Melão.

GANHO PARA AGRICULTORES E CONSUMIDORES- No projeto Cestas Solidárias todos ganham. Os agricultores têm uma garantia de venda toda semana. Como não existe um intermediário na negociação, eles podem fazer a entrega por um preço melhor.

Valdevino Lorenzi é veterano no projeto. “Estou desde 2017 e o projeto é excelente para nós produtores. Recebemos com antecipação, assim podemos investir na produção e na programação das culturas. Minha propriedade fica em Mandirituba e temos 45 clientes”.

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Na outra ponta, o consumidor tem acesso facilitado a produtos agroecológicos confiáveis. Em média, as cestas possuem de sete a nove produtos entre frutas, hortaliças, tubérculos, podendo incluir outros alimentos produzidos pelos agricultores como mel, geleias, compotas e ovos, entre outros. A principal característica é que são produtos de época, da região e cultivados sem agrotóxicos e insumos químicos.

Para a consumidora Mari Ester Gomes, o projeto é muito inteligente e importante. “Otimiza o tempo dos consumidores e agricultores, auxilia na manutenção de uma vida saudável com o consumo de produtos orgânicos a um preço acessível, além de ter o contato direto com o produtor. Esse contato é fundamental tanto para saber a origem dos alimentos, quanto na conscientização sobre a produção orgânica. Quem sabe no futuro todos os agricultores se tornem orgânicos, pois saúde na mesa é o que todos desejam”, diz ela.

O professor e engenheiro agrônomo do IDR-Paraná, Moacir Darolt, explica que os compradores economizam e ainda contribuem para melhorar a renda dos produtores familiares.

“O projeto do Cestas Solidárias vem responder a uma demanda crescente por parte dos consumidores por alimentos frescos e diversificados, agroecológicos, com uma identidade e proveniência conhecidas e um preço acessível” afirma Darolt. “Por outro lado, responde a uma dificuldade de comercialização que muitos produtores enfrentam, trazendo segurança de renda e de planejamento, pois toda a produção pode ser comercializada”.

Darolt acrescenta que o consumidor deve ser consciente e solidário com o agricultor, no sentido de aceitar os produtos da cesta sem prévia escolha.

Na aproximação entre consumidores e produtores, intermediada pelos técnicos do IDR-Paraná, são realizadas pelo menos duas reuniões para promover a conscientização do consumo responsável e saudável e também fazer o acerto sobre o número de itens da cesta, dia e horário de entrega, o local e o preço. Cada consumidor recebe uma sacola, confeccionada em material reciclado, que serve para atender a dinâmica de troca (leva e traz). O pagamento é feito de forma antecipada, mensalmente, diretamente ao produtor.

CESTAS SOLIDÁRIAS EM CONGRESSO DE AGROECOLOGIA- O Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) recebe trabalhos que contribuem para o campo agroecológico nas suas múltiplas expressões e esse ano, no espaço destinado a relatos de experiências técnicas, haverá a apresentação do trabalho de conclusão de curso da bolsista da Casa da Agroecologia IDR-Paraná, Jaqueline Cremonese, que foi sobre o projeto Cestas Solidárias.

Para Jaqueline, trabalhar no projeto é ao mesmo tempo muito gratificante e desafiador, pois a cidade, segundo ela, parou de conversar com o campo, e o que não se vê, não se sente. “O canal de diálogo que o projeto cria entre consumidores e agricultores é importante ao passo que os consumidores entendem o papel que possuem”.

Sobre a oportunidade de apresentar o Cestas Solidárias no congresso, que acontecerá de 20 a 23 de novembro, na cidade do Rio de Janeiro, Jaqueline avalia que será incrível relatar essa experiência de circuito curto de comercialização da agricultura familiar e orgânica na Região Metropolitana de Curitiba.

“Mais do que isso, o projeto poderá ter outros pontos de vista, visando aumentar sua abrangência e efetividade. O 12º CBA demonstra ser especialmente importante dado o agravamento das mudanças climáticas nesse ano de 2023, e considerando que a agroecologia é um dos caminhos para enfrentar esse fenômeno”, diz ela.

COMO PARTICIPAR- O agricultor que desejar integrar o projeto deve entrar em contato com a sua cooperativa ou com o escritório do IDR-Paraná do seu município para conhecer as demandas dos consumidores mais próximos da sua propriedade.

Os consumidores interessados em apoiar o Cestas Solidárias, adquirindo as cestas, devem verificar no IDR-Paraná se existe algum grupo na sua região. Se não houver, a pessoa pode reunir amigos ou familiares para formar um grupo, com um número mínimo de 15 participantes. A partir daí basta entrar em contato com o IDR-Paraná, que vai promover um encontro com produtores para a definição de produtos e detalhes da entrega. O contato pode ser feito pelo telefone (41) 3544-8110.